24-04-2011 Francisco Rebouças
Inicio este artigo fazendo algumas inquirições: Se o espiritismo não for uma religião, qual será então a religião dos seguidores do espiritismo? Serão ateus? Serão falsos católicos, protestantes, budistas etc., chamo de falsos, por não professarem e nem observarem suas filosofias e seus rituais da maneira com eles são pregadas em seus templos por seus fiéis seguidores.
Muitos desses defensores da teoria de que a doutrina espírita não é uma religião, citam para tanto as mesmas fontes que nós outros que defendemos o contrário; com a diferença de que eles apresentam dessas fontes somente o que lhes convêm apresentar, não trazendo também outros tantos argumentos contrários as suas teses, constantes das mesmas obras, que são simplesmente deixadas de lado, e, se o indivíduo que carrega a dúvida não se dedicar à pesquisa, no mínimo, não terá conhecimento suficiente para pelo menos comparar os argumentos de ambas as correntes e tirar suas próprias conclusões.
Por essa razão, mergulho nos mesmos livros mais utilizados pelos que não querem que o espiritismo seja considerado uma religião, para trazer os argumentos dos que defendem que também o espiritismo é sim uma religião; chamando a atenção para o fato de que é preciso separar apenas às convenções humanas, estabelecidas por outras correntes religiosas que incorporaram em suas práticas religiosas, dogmas, rituais, etc., que não são absolutamente encontrados na doutrina espírita.
“ (...) Se, assim é, dir-se-á, o Espiritismo é uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. No sentido filosófico, o Espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que fundamenta os laços da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza.
Por que, pois, declaramos que o Espiritismo não é uma religião? Pela razão de que não há senão uma palavra para expressar duas idéias diferentes, e que, na opinião geral, a palavra religião é inseparável da de culto; que ela desperta exclusivamente uma ideia de forma, e que o Espiritismo não a tem. Se o Espiritismo se dissesse uma religião, o público não veria nele senão uma nova edição, uma variante, querendo-se, dos princípios absolutos em matéria de fé; uma casta sacerdotal com um cortejo de hierarquias, de cerimônias e de privilégios; não o separaria das ideias de misticismo, e dos abusos contra os quais a opinião frequentemente é levantada.
O Espiritismo, não tendo nenhum dos caracteres de uma religião, na acepção usual da palavra, não podia, nem deveria se ornar de um título sobre o qual, inevitavelmente, seria desprezado; eis porque ele se diz simplesmente: doutrina filosófica e moral". ²
No Livro O que é o Espiritismo, no diálogo de esclarecimento que mantêm com o padre, segue Allan Kardec, em suas argumentações sobre o assunto:
O Padre. Não podeis entretanto, contestar que o Espiritismo não está, em todos os pontos, de acordo com a religião.
A.K. Ora, senhor abade, todas as religiões dirão a mesma coisa: os protestantes, os judeus, os muçulmanos, assim como os católicos.
Se o Espiritismo negasse a existência de Deus, da alma, da sua individualidade e da imortalidade, das penas e recompensas futuras, do livre arbítrio do homem; se ele ensinasse que cada um só deve viver para si, não só seria contrário à religião católica, como a todas as religiões do mundo; ele seria ainda a negação de todas as leis morais, bases das sociedades humanas.
Longe disso: os Espíritos proclamam um Deus único, soberanamente justo e bom; eles dizem que o homem é livre e responsável por seus atos, recompensado ou punido pelo bem ou o pelo mal que houver feito; colocam acima de todas as virtudes a caridade evangélica e a seguinte regra sublime ensinada pelo Cristo: fazer aos outros como queremos que nos seja feito.
(...) Que prova isto? Que não somos Ateus, o que não quer dizer que sejamos professos de religião formada (...).
(...) O Espiritismo, como doutrina moral, só impõe uma coisa: a necessidade de fazer o bem e evitar o mal. É uma ciência de observação que, repito, tem consequências morais que são a confirmação e a prova dos grandes princípios da religião; quanto às questões secundárias, ele as abandona à consciência de cada um.
(...) Se o Cristo disse a verdade, o Espiritismo não podia dizer outra coisa, e em vez de por isso apedrejá-lo, deve-se acolhê-lo como poderoso auxiliar, que vem confirmar, por todas as vozes de Além-Túmulo, as verdades fundamentais da religião, combatidas pela incredulidade.
1) Dicionário Brasileiro Globo – Francisco Fernandes Celso, Pedro Luft, F. Marques Guimarães
30ª – Edição , SP. 1993;
2) Kardec, Allan, Revista Espírita, IDE – novembro do ano 1868,
3) Kardec, Allan, O Que é o Espiritismo – FEB, 40ª edição;
4) Kardec, Allan, O Livro dos espíritos – FEB, 77ª edição;
5) Kardec, Allan, O Livro dos Médiuns – FEB, 68ª edição;
6) Kardec, Allan, A Gênese – FEB, 37ª edição;
7) Kardec, Allan, Obras Póstumas – FEB , 13ª edição.