“O homem que julga infalível a sua razão está bem perto do erro. Mesmo aqueles, cujas ideias são as mais falsas, se apóiam na sua própria razão e é por isso que rejeitam tudo o que lhes parece impossível.” Fonte: O Livro dos Espíritos, introdução VII.

Espiritismo em Foco

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

ENTREVISTA COM PAULO NETO

O FRANCISCO REBOUÇAS ESPIRITISTA TEM O PRAZER DE APRESENTAR AOS NOSSOS DISTINTOS AMIGOS, A ENTREVISTA QUE NOS FOI CONCEDIDA PELO RENOMADO PESQUISADOR ESPÍRITA, PAULO DA SILVA NETO SOBRINHO.
Entrevista: 

Dados do nosso entrevistado:

Paulo da Silva Neto Sobrinho é natural de Guanhães, MG.

Bacharel em Ciências Contábeis e em Administração de Empresas pela Universidade Católica-MG (PUC-BH). Aposentou-se como Fiscal de Tributos pela Secretaria da Fazenda-MG.

Adepto do Espiritismo desde Julho/1987; atualmente frequenta o Movimento Espírita em Belo Horizonte, MG. 

Articulista de diversos periódicos espíritas, entre eles, pode-se citar a revista Espiritismo & Ciência, da Mythos Editora, onde tem vários artigos publicados.

Na Web, vários sites espíritas publicam alguns de seus textos, entre eles:

Paulo Neto é autor dos livros seguintes:
A Bíblia à Moda da Casa
Alma dos Animais: estágio anterior da alma humana?
Espiritismo, princípios, práticas e provas.
Os espíritos comunicam-se na Igreja Católica.
Racismo em Kardec? (Ebook).
As colônias espirituais e a codificação.
Kardec & Chico: dois missionários. 

FR: Prezado Paulo Neto, como aconteceu o seu encontro com a doutrina espírita? 

PN: Na época vivia um relacionamento com uma jovem, que passava por sério problema de obsessão. Fomos orientados a procurar uma Casa Espírita, foi o que fizemos, o carinho com que receberam a nós dois, me sensibilizou muito. Constatada a obsessão, a Casa Espírita, diante da gravidade, que se apresentava o caso, abriu uma reunião específica para atendê-la. A partir daí comecei a questionar se havia algum sentido as pessoas brincarem de receber espíritos outros de conversar com eles, se não havia público algum, além de nós dois. Resolvi ler as obras de Kardec, e a partir daí, meu caro amigo, estou as lendo até hoje. (risos) 

FR: Qual a casa espírita que você frequenta na atualidade? 

PN: Atualmente frequento o Centro Espírita Manoel Felipe Santiago, no Bairro Santo Antônio, uma das tradicionais Casas Espíritas de Belo Horizonte. Atendendo a convite dos amigos, faço palestras em cerca de umas 20 outras. 

FR: A Doutrina Espírita completou 159 anos de existência, seu conteúdo permanece atualizado ou precisa ser reformado em algum ponto? 

PN: Kardec disse que “O Livro dos Espíritos não é um tratado completo do Espiritismo; não faz senão colocar-lhe as bases e os pontos fundamentais, que devem se desenvolver sucessivamente pelo estudo e pela observação. (Revista Espírita de julho de 1866, artigo Visão Retrospectiva das existências dos Espíritos, 3º§), portanto, a Doutrina Espírita sendo progressista caberá novas orientações até mesmo diante do progresso tecnológico e científico da atualidade. Na Codificação, por exemplo, nada foi falado a respeito de bebê de proveta, entretanto, isso é uma realidade. A meu ver, um ponto ainda controverso no meio espírita é se o princípio inteligente, na sua escalada evolutiva, passou ou não pelo reino mineral. Enfim, há muitas coisas que carecem de maiores esclarecimentos. 

FR: Como proceder para divulgarmos de maneira correta a mensagem espírita? 

PN: Poderíamos focar na divulgação via mídia (TV, Internet) promovendo a divulgação com programas sérios, feitos por pessoas reconhecidamente competentes. Seria, também, uma boa oportunidade dos expositores de destaque serem vistos e ouvidos por um maior número de pessoas. 

FR: Acompanhamos seu trabalho na divulgação do Espiritismo, e particularmente na defesa da fidelidade doutrinária, como você está vendo essa invasão de livros tidos como espíritas sem a necessária preocupação com os preceitos contidos na codificação do Espiritismo? 

PN: Infelizmente, no meio espírita, há considerável número de publicações que comprometem em muito a sua natureza de revelação divina, porquanto sérios questionamentos doutrinários surgem delas. Sendo uma Doutrina da lógica e do bom senso, ela, por si só, agrada a muitas pessoas, mas essas obras prejudicam-na, às vezes, levando-a ao ridículo. 

FR: Com a experiência de dedicado pesquisador da doutrina espírita, o que você pode nos dizer dos diversos livros, artigos, etc., publicados na mídia espírita que falam de assuntos doutrinariamente polêmicos sem citar as fontes de onde são retiradas da codificação espírita? 

PN: Se não colocam as fontes caem no “achismo”, ou seja, espelham opiniões pessoais dos autores. Se, defendemos a causa espírita, devemos mostrar ao leitor onde buscamos os argumentos doutrinários para sustentar nossas ideias e/ou conclusões. Quando se falar em nome da doutrina, dever-se-ia tratar o livro ou artigo nos moldes de um trabalho acadêmico, é o que procuro fazer com tudo que escrevo. 

FR: Você acabou de lançar o livro Kardec e Chico dois missionários, trazendo um manancial de informações que esclarecem que Chico não foi a reencarnação de Kardec, como você vê a opinião dos que afirmam que Chico é Kardec, sem a preocupação de apresentar argumentos de pesquisas sérias como a sua? 

PN: O grande problema disso é que iludem muita gente, especialmente, aqueles que não têm um conhecimento doutrinário mais aprofundado ou os que acabam de adentrar ao Movimento Espírita. Quando me propus a escrever esse livro, tive como objetivo atingir a esse público, não me moveu a intenção de converter ninguém ao que penso. Se os argumentos, calcados em fontes confiáveis, que apresentamos ao leitor, são bons, aceite-os, caso contrário, usando uma linguagem da informática, delete-os. 

FR: Como o livro tem sido recebido pelo movimento espírita em geral? 

PN: A resposta do público tem sido bem positiva. De Portugal, mandou-me um e-mail elogiando o nosso livro a escritora Manuela Vasconcelos, presidente da Comunhão Espírita Cristã de Lisboa. 

FR: Fale-nos sobre outro assunto para o qual você dedicou grande trabalho de pesquisa, para esclarecimento de quantos ainda tinham dúvidas sobre “O Espírito da Verdade”, que alguns espíritas insistem em dizer que era um grupo de espíritos participantes da obra da codificação do espiritismo. 

PN: Diante da pesquisa que fiz do tema, ficou bem claro que ele era o coordenador de todos os Espíritos envolvidos na codificação. Kardec, em a Revista Espírita 1866, afirmou categórico: “A qualificação de Espírito de Verdade não pertence senão a um e pode ser considerado como nome próprio; ela é especificada no Evangelho.” Quanto à sua identificação temos, por exemplo, Erasto que o designou de “Mestre de todos nós” e “Nosso Mestre bem-amado”. Compare-se a mensagem IX do cap. XXI de O Livro dos Médiuns, que, em nota, Kardec disse ter sido assinada por Jesus de Nazaré, com a mensagem número 5 do Cap. VI do Evangelho Segundo o Espiritismo, que está assinada pelo Espírito de Verdade. 

FR: Já sofreu críticas ou reprovação por agir dessa forma, pesquisar antes de informar? 

PN: Ah!, meu caro amigo, não há ninguém que escape às críticas, nem mesmo o mestre Jesus deixou de sofrê-las. Mas, o que me move a seguir em frente, é a opinião dos amigos sinceros e, especialmente, dos estudiosos. Já me qualificaram de “roustainguista” e de “desvalorizar a grandeza espiritual de Kardec”, isso vem de pessoas que não admitem ninguém ser contrário ao que pensam.

FR: Tem algo que acontece no Movimento espírita que você não aprecia? 

PN: Infelizmente, há duas coisas que não vejo com bons olhos. Primeira é como os espíritas tratam uns aos outros em suas discussões a respeito de qualquer assunto, está mais para “armai-vos uns contra os outros”. A segunda, é o pouco-caso que alguns companheiros tratam quase todos, especialmente, aqueles que se julgam de saber ilimitado, menosprezando qualquer opinião que não for a dele. 

FR: Por quais motivos nas Casas Espíritas os estudos sistematizados da doutrina são tão poucos frequentados? 

PN: Esse parece-me ser um mal quase que generalizado das Casas Espíritas. Dois fatores contribuem para isso; o primeiro está diretamente ligado ao coordenador, se não for alguém competente doutrinariamente e bom líder acaba dispersando as pessoas; o segundo, é que muitos expositores não aproveitam dos recursos da informática para dinamizar suas exposições, tirando-as das leituras intermináveis e monótonas, que invés de interesse despertam sono. 

FR: O que você diria a quem lhe pedisse orientação de obras para iniciar no conhecimento do espiritismo? 

PN: Há algum tempo atrás eu sempre recomendava a obra O Livro dos Espíritos, mas o retorno que as pessoas me davam não era nada bom. Passei a recomendar a obra O que é o Espiritismo (cuja interrogação do título sumiu), e percebi a mudança, as respostas passaram a ser positivas. Pensei comigo: “Que ideia genial”. Mas, para abater minha tola vaidade acabei por descobrir que essa ideia genial é de Kardec, que nessa própria obra e em O Livro dos Médiuns ele recomenda que se inicie os estudos pelo O que é o Espiritismo?. Pus as barbas de molho. (risos) 

FR: O aborto continua sendo o assunto mais discutido no meio espírita no momento, de que maneira nós espíritas podemos contribuir para evitar esse crime? 

PN: Não vejo outra forma senão a de esclarecer qual é o ponto de vista doutrinário sobre o aborto. Mas, para que isso aconteça, é necessário que o tema esteja programado para ser tratado nas reuniões públicas e nas de mocidades. Julgo ser o esclarecimento o melhor antídoto. 

FR: Porque nos dias de hoje, 2016 anos após Jesus nos trazer suas mensagens de amor e respeito ao próximo, o ser humano ainda não pratica seus ensinamentos? 

PN: Isso é a prova inconteste do atraso moral da humanidade. O progresso se fará quer queiramos ou não, porquanto a vontade de Deus se cumprirá. A semente foi lançada ao solo, o tempo da frutificação acontecerá, é da lei. Julgo que Deus não tem pressa, o infinito relativiza qualquer noção que temos sobre a duração do tempo. 

FR: Quais seus projetos para o futuro?  

PN: Nenhum projeto específico, mas gostaria de nunca sair da trilha que já tracei em relação ao fato de que minha opinião não pode se sobrepor aos conceitos doutrinários. Para isso conto como os amigos, aos quais todos os meus textos são enviados, são os meus filtros para manter-me nos limites doutrinários e para não sair do respeito que devo ter para com os outros, mesmo que suas opiniões sejam contrárias às minhas. 

FR: Paulo Neto, o que você gostaria de ter respondido, e que eu deixei de te perguntar? 

PN: Sobre algo que Chico Xavier disse e que me marcou. Trago para reflexão de todos nós, espíritas, essa afirmação simples e profunda ao mesmo tempo, dita por nosso Chico: “Se nós pudéssemos colocar uma legenda na frente de cada conjunto residencial, de cada cidade, de cada aldeia, de cada metrópole, de cada grande capital do progresso humano, se nós pudéssemos e tivéssemos bastante autoridade para isso, escolheríamos aquela frase de Nosso Senhor Jesus Cristo quando ele nos disse: 'Amai-vos uns aos outros como eu vos amei!'” 

FR: Para encerrar, gostaríamos que deixasse registrada sua mensagem a toda família espírita brasileira, através do Francisco Rebouças Espiritista. 

PN: “Muito se pedirá àquele a quem muito mais coisas se haja confiado.” (Lc 12,48) essa frase, dita por Jesus, muito me preocupa, pois não vejo que nós espíritas estejamos tão conscientes assim de nossa responsabilidade diante do conhecimento espírita que possuímos. Se a tivéssemos cumpriríamos integralmente essa assertiva do Espírito de Verdade: “Espíritas amai-vos, esse o primeiro mandamento…” 

FR: Agradecemos ao amigo Paulo Neto, por sua gentileza para com o Francisco Rebouças Espiritista, nos colocamos à disposição para a divulgação de matérias de sua autoria que o amigo desejar, e rogamos a Deus que o conserve com saúde e paz, para que você continue com lucidez e determinação, seu trabalho de divulgação da mensagem espírita, fundamentado na fidelidade aos postulados da codificação do espiritismo.

Site do Paulo Neto: www.paulosnetos.net - contato@paulosnetos.net

Francisco Rebouças